sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O conselho dos cinco sábios

O conselho dos cinco sábios era muito tradicional e acontecia uma vez por ano, formalmente, pois informalmente eles sempre se encontravam. Alguns mais que outros.
O conselho era composto por três homens e duas mulheres. Uma das mulheres, embora fosse um tanto rígida, era muito sábia e bondosa, ao contrário da outra que, além de se achar a mais sábia de todos os sábios e não ser nem a sombra de qualquer um deles, era antipática, nojenta e grossa.
Os homens do conselho eram a encarnação da sabedoria no mundo. Quando havia qualquer problema, não importasse o tipo, os três estavam dispostos a ajudar, cada um do seu jeito, mas sempre bem, e não era incomum que um pedisse a ajuda do outro, eles eram sábios o suficiente para saber que não há vergonha nenhuma em pedir ajuda. Mas aconteceu de chegar um suposto sábio de terras distantes, o que a princípio não pareceu ser um problema. Ele também ajudava muito as pessoas e fazia o possível para se tornar amigo dos cinco sábios, o que no início não aconteceu.
O tempo foi passando e dois moradores da aldeia se tornaram muito amigos do novo sábio, embora sentissem que no fundo, para o novo sábio, não fosse possível ser amigo de alguém. Talvez depois, com o tempo, ele descobrisse que amizade é a coisa mais importante que se pode conquistar, não importando quão sábio se é, aliás, quanto mais sábio, mais provável que se conheça o valor de uma verdadeira amizade.
Com todos os acontecimentos da aldeia, o novo sábio acabou se aproximando dos cinco sábios e então aconteceu uma coisa muito interessante. A sábia mais velha, que conseguia perceber as coisas de longe, percebeu que esse novo sábio não era tão sábio assim, mas continuava tratando-o muito bem. A sábia mais nova, arrogante como era, não gostou de encontrar alguém como ela e pior, alguém que conseguia disfarçar muito mais que ela, passando-se por mais sábio.
Os dois amigos que o novo sábio havia feito na aldeia, haviam percebido há muito tempo o tipo de sabedoria que ele se dizia conhecedor: repetia coisas ditas pelos outros, sábios ou não, fingia conhecer coisas que qualquer pessoa que realmente as conhecesse saberia que ele nunca conheceu e o pior de tudo, era esperto o suficiente para enganar até os próprios sábios, pois devido ao fato de passar muito tempo estudando documentos de sábios muito distantes, tinha muita coisa para dizer, levando alguns dos sábios a crerem que toda aquela sabedoria tinha surgido da própria cabeça do novo sábio. Seus amigos, mesmo sabendo disso e tendo que agüentar todo tipo de desconsideração, continuavam sendo seus amigos, pois eles sabiam que aquele era o jeito dele e não havia o que fazer, embora tentassem. Outra coisa que fazia com que eles não se importassem tanto era o fato de saber que ele jamais conseguiria iludir os três grandes sábios.
Os sábios tinham um programa de aprendizagem na aldeia, e os alunos que se destacavam de alguma forma eram convidados para serem aprendizes dos grandes sábios. Os amigos do novo sábio eram aprendizes dos grandes sábios, um de cada, pois não era comum que um sábio tivesse mais que um aprendiz. E foi aí que coisas estranhas começaram a acontecer. O sábio que era mentor de um dos amigos aceitou também instruir o novo sábio. No início, os amigos ficaram apreensivos, pois o novo sábio podia enganá-lo, mas então pensaram que isso era absolutamente impossível e que com a convivência o grande sábio perceberia o engodo que era o novo sábio. Mas só Eru sabe que tipos de magias o novo sábio aprendeu em seus estudos, pois conseguiu enganar muito bem o grande sábio, a ponto de fazê-lo destratar seu primeiro aprendiz, dando preferência sempre ao novo sábio. Noa, o aprendiz desse grande sábio, ficou muito triste, pois amava demais seu mentor e não achava justo ele estar sendo enganado de forma tão vil e também não achava justo a forma como ele mesmo estava sendo tratado. Será que o grande sábio havia esquecido tudo o que tinham passado juntos?
Mea, o outro aprendiz, ficou com muito medo de isso acontecer com seu mentor, pois o novo sábio estava tentando e tentando, mas Mea estava alerta depois do que havia acontecido com o mentor de seu amigo e não permitia que o novo sábio se passasse por algo que ele não era na frente de seu mentor. Assim, com alguns empurrõezinhos de Mea, o seu mentor percebeu o que havia por trás da máscara do novo sábio e, embora nunca o destratasse, tratava-o da forma como deveria, ou seja, não como um sábio.
O terceiro dos grandes sábios, que era o mais adorado por Noa e Mea, também corria perigo, mas eles acreditavam que ele era forte suficiente para perceber e não se importaram muito em alertá-lo, principalmente porque não tinham muito contato com ele.
Um dia, os dois mentores precisaram se ausentar, deixando os três aprendizes nas mãos do terceiro sábio e então aconteceu o que Noa e Mea mais temiam: o novo sábio resolveu atacar. Mas dessa vez era muito pior, primeiro porque era o sábio que mais admiravam e o que tinham mais certeza que nunca se deixaria enganar, segundo porque estavam acompanhando o lento processo de corrupção que o novo sábio utilizava com suas vítimas e terceiro porque eles começaram a ser tratados de uma maneira muito diferente pelo terceiro sábio, como se os impostores ali fossem eles. Isso era absolutamente insuportável e Noa e Mea se sentiram os piores seres do mundo enquanto o novo sábio cantava vitória por toda a aldeia. O fato de ele haver conquistado a graça de dois dos grandes sábios fazia com que a maioria da população também pensasse que ele fosse um grande sábio. Como estavam enganados.
Noa e Mea não sabiam o que fazer, pois confiavam demais na sabedoria dos sábios e dois deles haviam sucumbido. Não sabiam o que pensar e começaram a achar que o problema era com eles, afinal, se o novo sábio conseguira enganá-los ou ele era realmente sábio, o que não era possível, pois eles o conheciam muito bem, ou os grandes sábios na verdade não passavam de uma ilusão. Mas isso também era inconcebível. E então perceberam que era exatamente isso: uma ilusão! Tudo era uma grande ilusão. O problema não estava com os grandes sábios ou com o novo sábio e sim nessa diferenciação idiota entre sábios e não sábios, cada ser é um ser e cada um com sua própria sabedoria. Só isso podia explicar o fato de algumas pessoas, sábias ou não, terem acreditado no novo sábio e outras não. A questão é que havia algumas pessoas que não se incomodavam em conviver com pessoas como o novo sábio e isso não fazia delas pessoas menos sábias. Era tudo questão de escolha e Noa e Mea escolheram deixar o tempo mostrar o que quer que fosse pra quem quer que quisesse ver.

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