sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Corion

Corion era um lugar mágico, mas somente os seres mágicos sabiam disso. Não que Corion não quisesse ser reconhecido por todos os seres, mágicos ou não, o problema era que os seres em geral não queriam reconhecer Corion como um lugar mágico. Era só uma floresta.
Não sei bem como descrever Corion, não era um país, nem um ‘mundo’. Era um lugar. Um lugar lindo e que todos amavam, cada um por seus motivos.
Billy, o unicórnio, vivia no extremo leste de Corion, ao norte, e podia ver parte das terras que eram conhecidas como desoladas. Não havia nada lá, só terra. Mas ninguém se preocupava muito com aquela parte, nem olhava muito pra lá, era muito triste, parecia um grande fantasma marrom e esfumaçado. Billy tinha medo.
Mas como eu estava dizendo, Corion não era um país, era um lugar e um lugar diferente se pensarmos no uso corrente da palavra ‘lugar’. Quando o grande Tom Azul resolvera esconder seu povo, ele sabia que não conseguiria reunir todos em um só lugar, afinal havia quem preferisse a montanha ou a floresta ou a praia. Então, o grande Tom divulgou um comunicado avisando a todos os seres que permanecessem no lugar em que preferissem viver, pois ele lançaria um encantamento que faria desses lugares um refúgio para todos eles e esse refúgio seria Corion, um grande lugar espalhado por todo o grande mundo. Muito tempo depois, quando os homens fizeram divisões no grande mundo, separando-o em centenas de países, Corion continuou inalterada, sem nenhum tipo de divisão e a história que estou tentando contar se passa em uma parte da grande Corion, ou melhor, uma floresta da grande Corion.
Billy era provavelmente o ser mais curioso, falador e intrometido que existia em toda Corion, tudo era motivo de perguntas e a maioria dos habitantes não gostava muito de responder perguntas, então Billy procurava a fada Lily: “Por que as árvores crescem para cima? Por que o céu é azul se o brilho do sol é amarelo? Por que eu tenho quatro patas?”. Mas Lily era um poço de paciência e dava todas as respostas que ele queria: “As árvores crescem para cima porque o grande Tom Azul mandou que elas enxergassem o mais longe que pudessem e vissem tudo o que precisassem e o céu é azul para combinar com Tom, o sol não se importou em ceder essa grande tela que é o céu para a cor preferida de Tom e, em agradecimento a isso, Tom passou a usar botas amarelas para homenagear o sol e, e essa é a última que eu respondo hoje, você tem quatro patas para poder agüentar toda essa curiosidade dentro de você ou você realmente acha que somente duas pernas dariam conta?”. Esse era mais um dia normal em Corion. Mas havia uma pergunta que Billy fazia todos os dias, mas essa Lily nunca respondia: “Onde estavam os Seres Especiais e por que eles haviam se afastado de Corion?”.
Lily não respondia essa pergunta porque também não sabia a resposta, pois houve uma época em que Corion vivia em harmonia com o mundo ‘real’. Na verdade, naquela época não existia diferença, Corion era parte do grande mundo, nem mais nem menos real. Nessa época fadas e homens, elfos e anões viviam em paz e todos juntos, mas em algum momento e por algum motivo alguém fez com que os homens passassem a pensar que eram especiais, ou melhor, mais especiais que os outros seres, afinal todos são especiais de uma maneira ou de outra. Então os homens se tornaram arrogantes e quiseram se afastar de cada ser que não pertencia a sua própria espécie e fizeram com que seus filhos não acreditassem mais em nada que não fosse visualmente comprovado e como os outros seres preferiram se afastar, não eram mais vistos e conseqüentemente deixaram de existir para os homens.
Às vezes aparecia alguém que podia ver Corion, mas isso só era possível para quem havia acreditado, antes de qualquer coisa, e isso era muito raro. Corion, então, deixou de ser mais uma parte do grande mundo e passou a ser um refúgio dos seres invisíveis e o grande Tom Azul fez com que Corion e seus seres passassem a ser visíveis somente para aqueles que, além de acreditar, buscassem com muita vontade esse lugar mágico. Assim, os homens passaram a ser também invisíveis para a população de Corion, pois nenhum deles queria sair dali e nenhum homem aparecia há muito, muito tempo. Na época em que se encontravam agora não havia mais ninguém que acreditasse, talvez algumas crianças e alguns leitores, pois as histórias sobre Corion permaneciam nos livros, embora a maioria de seus leitores pensassem ser apenas histórias e a outra parte, mesmo acreditando, desistiam muito fácil de procurar. A última vez que um humano aparecera por ali e se tornara amigo dos habitantes de Corion fora há 80 anos.

Nenhum comentário: