sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A menina e seu cavalo

Em uma cidadezinha muito pequena vivia uma menina, e que terrível era essa menina! Quando tinha cinco anos achava que já sabia tudo, mas nunca se cansava de aprender. Nessa mesma cidade vivia um cavalo, na verdade viviam muitos cavalos, mas havia um que seria especial, embora eu pense que todos os cavalos sejam importantes, assim como qualquer outro animal, principalmente os cachorros e os ursos e talvez um pouco menos os mandruvás. A questão é que na mesma cidade viviam uma menina e um cavalo que terão especial importância para essa história. A menina se chamava Bia e o cavalo... Limão.
Quando essa história se inicia, Bia tem 16 anos e acaba de reencontrar seu primo Lídio na fazenda de seu tio. Nessa época era proibido se apaixonar por primos, acho que ainda é, mas, naquele momento, Bia estava acabando de entrar numa fria e, nesse exato momento, mais alguém estava se complicando, e muito mais: Limão, pois ele estava completamente apaixonado por Bia.
Você deve estar se perguntando como um cavalo pôde se apaixonar por uma humana, mas Limão não era um cavalo comum, ele gostava de sonhar e nunca gostou das coisas limitadoras da vida. Por que a vida de um cavalo tem que se limitar às atividades cavalais? Por que um cavalo não pode querer mais do mundo do que um simples monte de feno? Limão não queria deixar de ser cavalo, nunca quis, a única coisa que ele queria era poder viver do jeito dele, assim como ele nunca quis se apaixonar por uma humana, ele não era tão louco assim, mas aconteceu e agora ele estava completamente perdido.
Como eu havia dito, Bia se apaixonou por Lídio e como todo primeiro amor, ela pensou que nunca iria esquecê-lo e que seria o fim da sua vida se ele também não a amasse. E ele não amava. Não como ela esperava. Bia era a prima preferida de Lídio e ele ficou muito triste quando percebeu que teria de magoar sua primiga, pois era assim que se tratavam: como primos e amigos.
A agonia de Bia durou um ano inteiro. Ela passou a freqüentar a fazenda muito mais do que costumava e Lídio, por sua vez, tentava não entender o que isso significava. Um dia, quando os dois passeavam pelo gramado próximo à Bela Árvore, uma grande e frutífera mangueira que fizera parte da infância e da história dos dois, Lídio resolveu esclarecer a situação incômoda em que se encontravam e disse:
– Primiga, tentei fingir que não estava entendendo tudo o que vem acontecendo, mas você sabe muito bem que eu sei e também sabe o que eu acho.
– Não vou fingir que não sei – disse ela. Só não tinha coragem de falar abertamente e perder a gotinha de esperança que todos têm no coração mesmo quando sabem que tudo está perdido.
– Sei, mas, infelizmente, nesse caso não há nenhuma esperança. Sinto muito! E Lídio se afastou lentamente.
– Espera! Se vou ter que conviver com sua recusa, pelo menos vou ser recusada depois de falar – disse ela já chorando. Eu te amo mais, mais... não sei mais que o que, só sei que te amo muito e que desde que te vi de novo, depois de tanto tempo, tive certeza de que você era o homem da minha vida. A única coisa que fiz esse último ano foi pensar em você e em como te diria isso.
Silêncio!
– Mas você já deixou claro que não me ama há muito tempo – completou Bia.
– Mas eu te amo, Bia! Você é a prima que eu mais gosto, mas é só. Primigos, lembra?
– Não sou mais sua primiga Lídio, que coisa idiota! Pára com essa besteira de infância, a gente cresceu!
– Pois não está parecendo e idiota é essa sua atitude!
Bia estava muito nervosa e chorava muito; Lídio também saiu apressado e batendo os pés, depois de alguns passos ele parou, respirou fundo e se voltou para Bia para dizer:
– Um dia, muito brevemente acredito, você vai esquecer essa bobagem, se apaixonar por outra pessoa e a gente vai voltar a ser primigos. Até lá!
Lídio se afastou e deixou Bia chorando até não poder mais, encostada na mangueira, mas ela não estava sozinha.
Limão havia assistido toda a cena e estava duplamente triste. Primeiro por saber que sua Bi (era como a chamava) era apaixonada por outro, não que ele esperasse que ela se apaixonasse por ele, até parece! Mas também não por Lídio; segundo por vê-la tão triste e desconsolada, o que fez com que, a partir desse momento, Limão tivesse raiva de Lídio, por não merecer e desprezar amor tão valioso. Involuntariamente Limão soltou um grande suspiro, suspiro de cavalo, e Bia, que até então não havia notado a presença do cavalo, olhou para os seus grandes olhos marrons e tristes, como costumam ser os olhos de um cavalo. Mas nesse momento os olhos de Limão eram muito mais tristes do que os olhos de qualquer outro cavalo do mundo e isso chamou a atenção de Bia, que pensou “Há mais amor nos olhos desse cavalo do que no meu coração e imagino que mais do que no coração de qualquer outra pessoa”. Ela estava mais certa do que imaginava.

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