Sem nada para fazer ele decidiu escrever sobre o que estava pensando, mas não estava pensando em nada.
A menos que... se se esforçasse um pouquinho... poderia pensar em alguma coisa. Talvez sonhos.
Sonhos. A realidade dos sonhos parecia real somente nos livros. Ninguém acredita nos sonhos. Por que eles mentem? Não. É tudo verdade. Mas eles enganam de um jeito maldoso, sem mentir, mas alocando realidades para criar uma não alcançável. Tudo o que ele sonha é verdade. Mas uma verdade também pode ser uma mentira. Estou acordado ou dormindo? É verdade ou mentira? Ele conhece verdades e até hoje todas elas mentiram, seja em sonho ou acordamento. Não estranhem a palavra, mas realidade não é o contrário de sonho, nem de nada.
E nada? Ele não tinha muito para escrever sobre nada, se bem que nada rende muito no mundo, principalmente no pensamento. No discurso também. E fica aquela confusão sobre de que nada estaria ele falando se nada é infalável e portanto se fala de tudo.
Achou estranho. Queria falar de nada e está falando de tudo. Tudo sempre se espremia na conversa. Intrometido.
Talvez melhor do que falar de nada seria falar nada, mas agora já tinha falado demais para voltar atrás. Mas não era falar, era escrever. Tudo errado.
Tudo.
Errado.
No fim o problema todo são as malditas palavras.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Sonhei que nada podia escrever
segunda-feira, 3 de junho de 2013
O lugar verde
sábado, 4 de dezembro de 2010
O moço do ônibus
Todos os dias ela sentava no mesmo banco do ônibus. E lia.
O ônibus estava sempre vazio naquele horário, quando voltava do trabalho, só uma pessoinha ou outra, às vezes. Nesse dia também estava, mas o moço que entrou escolheu sentar-se ao lado dela. E ele era lindo!
Ela continuou lendo, mas percebeu que ele olhava insistentemente e sorria. Já estava incomodando. Mas então ele falou:
– Desculpa! Mas é que eu adoro Tolkien! Tá gostando do livro?
Uau! Ele adorava Tolkien!!!! Além de lindo era inteligente!
– Na verdade eu gosto do livro. Já li mais de 10 vezes. É o meu favorito.
– Do Tolkien ou de todos?
– Dos dois!
– Entendo. É o meu também!
Podia ser verdade, mas ele poderia estar dizendo isso só pra agradá-la. Mas estar tentando agradá-la também não era bom? Ela queria conversar mais, mas era tímida para puxar assunto, mesmo sendo um assunto que a fazia falar sem parar. Então, no que ela pensou ser a conspiração do mundo para que ela amasse aquele moço pela eternidade, ele olhou pra ela disse:
– Aposto que é corinthiana!
Lindo. Tolkien. Futebol. Quer se casar comigo?
– Como você descobriu? – Disse ela com um sorriso enorme.
– Seu chaveiro. – Disse ele rindo ainda mais.
Ah! Claro, o chaveiro! Que burra!
– E você, pra que time torce?
– Qual você acha?
– Não deve ser Corinthians...
Ele continuou quieto, com um sorrisinho no rosto.
– É Corinthians?
Não podia ser, era perfeição demais!
Ele soltou uma gargalhada – Claro! Achava que eu ia torcer pra quem?
O caminho era um pouco longo, então foram conversando sobre tudo o que tinham em comum, até que ele disse:
– Tenho que descer logo, me passa seu telefone?
Ela passou, claro.
– A gente se fala. – Disse ele sorrindo enquanto puxava a cordinha do ônibus. – Até mais!
– Até!
Ela mal acreditava que tinha acabado de conhecer alguém assim, tão perfeito! Certeza que não ia ligar. Certeza!
Duas semanas se passaram. Ele não ligou. Ela ficou muito triste, mas já esperava. Com ela era sempre assim. Ainda bem que não tinha pegado o telefone dele, porque iria ficar tentada a ligar. Agora não havia nada a fazer.
O que ela não sabia era que o moço descera do ônibus transbordando de felicidade por ter encontrado alguém como ela e planejava ligar no dia seguinte, mas devido a tamanha felicidade não prestara atenção na rua e não vira ou ouvira o caminhão que passou por cima do seu corpo, destruindo tudo: o corpo, a vida, o sonho, o celular.